terça-feira, maio 31, 2005

Enredos Imaginários

Adeus que me vou embora

Adeus que me vou embora
Adeus que me embora vou
Vou daqui prá minha terra
Que eu desta terra não sou

Tenho minha mãe à espera
Cansada de me esperar
Naquela encosta da serra
Vamos ser dois a chorar

À espera tenho o meu pai
Aos anos que o não vejo
O tempo que vai durar
O meu abraço e o meu beijo


Vim solteiro e vou solteiro
Vou livre de coração
Se alguém me quiser prender
Já não vou dizer que não

Adeus que me vou embora
Adeus que me embora vou

António Variações

Sempre que ouço estas palavras na voz bem timbrada do Camané não consigo evitar um nó na garganta. Para além da beleza simples que delas se desprende, imagino António Variações escrevendo este epitáfio com a vida por um fio, como uma canção de despedida para aqueles que amava à distância. Nada me leva a crer que fosse este o contexto desta nostalgia feita poema, e apesar das lágrimas teimarem em avermelhar-me o olhar ouço-a com prazer e deleite.

segunda-feira, maio 30, 2005

I'm Dumbfounded!

No Tonight Show, após inquirir Terry Hatcher a propósito da cerimónia dos Laureus, Jay leno quis saber como tinha sido conhecer o Rei de Espanha, acrescentando ainda em tom de pergunta retórica: He's single, right?, ao que Terry prontamente anuiu.
Mais uma prova que a ignorância norte-americana e o interesse que dispensam ao que quer que esteja para além dos seus umbigos não se esgota nos rednecks e hillbillies e nos respectivos serões da província.

Geração quê?

Chamemos-lhe Geração Black Eyed Peas (à falta de ideia mais original de momento). Com as devidas excepções a melómanos ecléticos na primavera ou outono da vida, que, apesar de se identificarem com determinado estilo ou corrente musical, manifestam conhecimentos desde a esfera da pop ou hardcore à world music ou clássica, os elementos da geração BEP costumam ter menos de 26 anos e uma visão algo limitada do mundo musical. Ontem, em conversa com uma amiga desta faixa etária, dei por mim a leccionar um crash course sobre as tendências mais marcantes da música pop britânica (eu nestas coisas sou mais europeia que americana, talvez por influência do legado sixties paterno) quando me apercebi que a minha amiga não fazia ideia quem eram os New Order ou os Smiths. Fui desaguar (imagine-se!) nos anos 90, numa digressão pelo movimento grunge de Seattle, referindo os Nirvana pelo caminho. Não sei se a minha tentativa de lhe transmitir uma ínfima partícula da riqueza musical humana foi em vão, pois ela confessou-me ser daquelas pessoas que tem dificuldade com nomes do que quer que seja. Mas aquele momento foi sentido como uma expressão do meu não conformismo com modas, playlists de estações de rádio e globalizações. Para mim sempre foi motivo de regozijo conhecer bandas que poucos conheciam (e que nem por isso tinham menos qualidade) e remar contra a maré do mainstream, iniciando outros nessas pérolas escondidas nas ostras do oceano musical. Porque como diria o mui sábio Robert Louis Stevenson:
To know what you prefer, instead of humbly saying Amen to what the world tells you ought to prefer, is to have kept your soul alive.

domingo, maio 29, 2005

Preguiça*


Vou ali ver as proezas do m-shelf e já volto.
*inspirado aqui

sábado, maio 28, 2005

Febre de Sábado de manhã

Decidi render-me aos questionários online que por aí pululam. Segundo este questionário, se fosse um livro seria The Adventures of Tom Sawyer porque :
With an affinity for floating down the river, you see things in black and white. The world is strange and new to you and the more you learn about it, the less it makes sense. You probably speak with an accent and others have a hard time understanding you and an even harder time taking you seriously. Nevertheless, your adventurous spirit is admirable. You really like straw hats.
Deverei ficar exultante ou ofendida? Considerando as perguntas a que respondi não faço a menor ideia como deu nisto. No entanto é um livro doce e nostálgico, pelo retrato de uma infância sarapintada de aventuras vividas ao ar livre que eu, menina de espaço urbano-depressivo, muito invejava. Lembra-me a casa dos meus avós maternos, espaço rural de cores e sabores únicos e brincadeiras entre primos afastados pela distância da rotina diária.

sexta-feira, maio 27, 2005

Give me a Break!

Investigadores britânicos chegaram finalmente a uma conclusão quanto ao significado da palavra «tarde», para a maioria dos ingleses, quando afirmam que alguém «está atrasado»: chegar tarde é chegar 10 minutos e 17 segundos atrasado.
Ora aí está um estudo de inegável interesse público.

quinta-feira, maio 26, 2005

Prisão Domiciliária

Neste início de tarde estival fiquei presa à beleza sombria e misteriosa de um filme sobre Hans Christian Andersen. Porque nem só do tecnologicamente agrilhoado Hollywood vive o cinema mundial.

quarta-feira, maio 25, 2005

Planear o futuro

terça-feira, maio 24, 2005

Pequeno manifesto anti-alienação

Abomino viver numa sociedade que prefere celebrar entrondosamente a vitória de um clube de futebol a empreender esforços numa recuperação económica.
Fico frustrada por não poder reciclar as mentes portuguesas.
Apesar de tudo não emigro, à espera não sei bem de quê do futuro.

domingo, maio 22, 2005

As Rugas dos 32

sábado, maio 21, 2005

Cheiro de Férias

Dia de sol, mar, areia, caminhadas ao ar livre com gente do coração e uma caracolada de fim da tarde a encerrar o dia.

sexta-feira, maio 20, 2005

Futilidades

Entre o Referendo à Constituição Europeia, Osama Bin Laden que continua no activo, o furacão Adrian, a seca, as listas de espera dos hospitais e outras preocupações legítimas, só consigo pensar em fugir para o litoral alentejano hoje à noite e regressar no domingo, com a barriguinha cheia de caracóis e pão das redondezas, a cabeça leve feita paz, sol e mar, bem a tempo de ver o primeiro episódio de Desperate Housewives na Sic.

quinta-feira, maio 19, 2005

21.30

quarta-feira, maio 18, 2005

Quero é viver

Vou viver
Até quando eu não sei
Que importa o que serei
Quero é viver

Amanhã
Espero sempre um amanhã
E acredito que será
Mais um prazer

E a vida
É sempre uma curiosidade
Que me desperta com a idade
Interessa-me o que está pra vir

E a vida
Em mim é sempre uma certeza
Que nasce da minha riqueza
Do meu prazer em descobrir
Encontrar, renovar, vou fugir ao repetir

António Variações

terça-feira, maio 17, 2005

Arco-Íris
















por Cláudia Barbosa daqui
Todos precisamos de um.

segunda-feira, maio 16, 2005

Roda Viva

Às vezes precisava que a vida fosse menos roda e mais viva. Isto ou ser também domingo em segundas-feiras como as de hoje.

domingo, maio 15, 2005

Argumento infalível para justificar a assinatura mensal da Sport TV

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sábado, maio 14, 2005

A Magia da Primavera

Sempre pensei que por habitar num espaço urbano não teria nunca o prazer de me deleitar com certos apanágios da ruralidade. Enganei-me. De há dois dias para cá tenho acordado ao som de uma chilreada sinfónica de alto gabarito, com direito a melros solistas e tudo. E nem preciso de abrir as janelas para os ouvir.

sexta-feira, maio 13, 2005

As amigas das minhas amigas....

Através de um simples telefonema acabei de saber que a Madalena do Chora e eu temos amigas em comum. Depois de meses de comentários e cumplicidades online é bom constatar que o mundo é mesmo uma aldeia global em que não há coincidências.
P.S. Eu já sei quem ela é (embora não a conheça pessoalmente, apenas conheço o filho Diogo) mas a Madalena não faz ideia quem eu sou... hi hi hi...

quinta-feira, maio 12, 2005

No escurinho do cinema

Ontem fui administrar a dose semanal de cinema como faço sempre que posso. Kingdom of Heaven de Ridley Scott não foi uma desilusão total- o desempenho de Saladino, a voz de Edward Norton, os sempre irrepreensíves Liam Neeson, Jeremy Irons e David Thewlis, alguns momentos da banda sonora e ainda os cenários merecem as duas estrelas e meia que lhe daria se fosse crítica de cinema- mas a branda prestação de Orlando Bloom (apesar do talento falta-lhe talvez experiência e segurança- fico ansiosa à espera da parte dois de Piratas das Caraíbas) e as incongruências do argumento deitaram por terra as ambições megalómanas deste épico.
Como se não bastasse este desapontamento, a projecção do filme foi vergonhosa. As legendas começaram por estar desfocadas logo nos dez primeiros minutos do filme, facto que ignorei ostensivamente por pensar que a minha miopia estaria a pregar-me partidas. Mas a falta de nitidez do filme foi piorando cada vez mais, até que farta de tanta falta de profissionalismo - a uns 30 ou 40 minutos do fim e perante a inércia alheia- resolvi levantar-me para reclamar. Para meu espanto, pois pensava encontrar algum funcionário nas imediações da sala, tive de sair da sala e percorrer o corredor quase até à saída dos cinemas para encontrar alguém (mais tarde a gerente dir-me-ia com um ar convicto- está sempre um funcionário disponível!- como se fosse motivo de gáudio). Este funcionário (haja competência) prontamente resolveu o problema entrando em contacto imediato com a cabine de projecção. Quando regressei ao meu lugar, já se tinha reposto a normalidade.
Perante esta peripécia restou-me uma dúvida existencial: alguém teria lá ido se eu não estivesse na sala? Os Portugueses em geral refilam muito mas reclamam pouco pelas vias correctas e por vezes com pouca educação. Curiosamente, à saída, e próximo da bilheteira, estava um grupo que conversava sobre o incidente com a gerente, pelo que me aproximei para ouvir a sua explicação. Entre parafinas, bobines e outros termos técnicos que prontamente esqueci (tenho de comprar o tal Viagra da memória) lá argumentei que o que me pareceu foi que houve falta de profissionalismo do projeccionista, que não estava atento à projecção para ajustar a imagem. Blá blá blá e os outros presentes sugerem em tom de brincadeira uma compensação que a gerente contorna. Logo depois voltam à carga e afirmam que pelo menos moi devia ser compensada pela iniciativa de que todos beneficiaram. A dita jovem lá anuiu desculpando-se que não podia oferecer-nos (me and my hubbie) bilhetes naquele momento mas que se a vissemos por lá noutra ocasião o faria. Ora nós tinhamos acabado de comprar bilhetes para o famigerado Star Wars (dia 19) pelo que se tiver coragem talvez tenhamos oportunidade de confirmar se a jovem é de palavra.

quarta-feira, maio 11, 2005

Chocomaníaca

Sinto em mim a crescer uma coragem Nestlé....Desta vez, em vez de arruinar a ida matinal ao ginásio com umas colheradas generosas de leite condensado, vou partilhar as ânsias da minha angústia hormonal. Há dois dias que ando obcecada por este

Bolo de chocolate cremoso

4 ovos

15ogr de margarina

300gr de açúcar (200gr de açúcar amarelo)

2 colheres de sopa de farinha

200gr de chocolate em barra (como não aprecio chocolate preto costumo usar o chocolate em pó da Cadbury's, mas fica mais doce e enjoativo- o que para mim é uma mais valia)

Derrete-se o chocolate com a margarina em lume brando (até fazer um creme)

Misturam-se os ovos inteiros com o açúcar e a farinha.

De seguida mistura-se o creme de chocolate na mistura dos ovos, farinha e açúcar lentamente, até ficar bem incorporado.

Deita-se o resultado em forma (sem buraco) previamente untada e polvilhada com farinha e vai a forno médio cerca de 25 minutos. Tem de ficar muito mal cozido no meio (onde permanece cremoso).

É fácil, rápido e nunca sobra.

terça-feira, maio 10, 2005

Com o advento das sms e do correio electrónico a língua cada vez mais se simplifica e despe de fórmulas feitas de cortesia verbal como "Venho por este meio..." e afins. Não consigo decidir se se me afigura como uma evolução ou devolução da nossa identidade linguística, mas parece-me que o acto de simplificar o que quer que seja é sempre bem-vindo. Assim, ao escrever um email de pedido de informações engasgo-me inevitavelmente na introdução: será que "Venho por este meio" é muito pomposo? E se abrir as hostilidades com um "Gostaria que me informassem" será demasiado coloquial? Socorro!!!!

domingo, maio 08, 2005

I beg your pardon !

Os estudantes do Reino Unido que realizem o exame final do 12º ano terão um bónus de 2% na nota se o seu animal de estimação morrer no dia da prova.
De acordo com critérios estabelecidos pelo Conselho de Exames que fiscaliza o decurso do «GCSE», ou «A Levels» - exame único que equivale em Inglaterra aos do 12º ano de escolaridade -, se o animal morrer na véspera do exame apenas garante um aumento de 1% ao aluno enlutado.
A morte recente de um membro da família próxima poderá valer até 5%, um valor que é de 4% caso o falecido seja do segundo nível familiar.
Por testemunhar um acontecimento dramático no dia do exame, o aluno vê a sua nota aumentada em 3%, o mesmo bónus por partir uma perna ou ser vítima de um ataque de asma nos dias anteriores.
Uma alergia ao pólen poderá valer mais 2% e uma simples enxaqueca um ponto percentual.
Este sistema foi este domingo criticado pela fundação independente «Campanha para uma Verdadeira Educação», de acordo com a qual este barómetro é consequência de «uma atitude global na sociedade em virtude da qual há uma desculpa para tudo».
Diário Digital / Lusa

Estou mesmo a ver os alunos portugueses a reclamarem os mesmos benefícios, manifestando-se Av da República abaixo de iguana ou tarântula ao colo...

Haverá

programação televisiva mais deprimente e desinteressante do que a de domingo à tarde?

sábado, maio 07, 2005

Ai de mim...

O calor tem efeitos avassaladores. Desde o abrandamento das sinapses cerebrais até à incontrolável indolência que se apodera do físico, tudo parece uma conspiração intergaláctica para subjugar os humanos. E cada vez vem mais cedo...

sexta-feira, maio 06, 2005

Infernos



Com vários casamentos na mira este verão tremo de horror... (coisas de Gaija)

quinta-feira, maio 05, 2005

O Rei Sol

No país que podia vender sol às garrafinhas* nada mais me intriga do que só agora um conjunto de empresas alemãs se propor explorar esta riqueza. Será desta que vai avançar o choque tecnológico?

quarta-feira, maio 04, 2005

Umbiguismos

Há bloguistas que se esforçam demasiado por ser lidos. Haverá manifestação mais patética de narcisismo do que deixar apenas o link próprio num comentário a blogue alheio sem mais nem quê? Seria mais discreto escrever realmente um comentário de aperitivo ao link prato principal...

terça-feira, maio 03, 2005

A Guerra dos Cérebros

segunda-feira, maio 02, 2005

Paul Auster : o culto (parte II)

A voz envolvente e bem timbrada coloriu o auditório com pinceladas de vida inventada – ecos do seu último filho de papel. O prazer da leitura colectiva a sarar a solidão da escrita.
Não sabe de onde lhe vêm as ideias, limita-se a desenhar com palavras aquilo que a imaginação lhe impõe. Admite eleger as personagens com existências feridas que exalam a mortalidade iminente. Não assume a escrita como acto catártico nem sequer paliativo de quaisquer conflitos interiores mal resolvidos. Escreve porque não logra evitá-lo.
(a continuar)

domingo, maio 01, 2005

O que há em mim é sobretudo cansaço


















Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas –
Essas e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada –
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos