quinta-feira, maio 12, 2005

No escurinho do cinema

Ontem fui administrar a dose semanal de cinema como faço sempre que posso. Kingdom of Heaven de Ridley Scott não foi uma desilusão total- o desempenho de Saladino, a voz de Edward Norton, os sempre irrepreensíves Liam Neeson, Jeremy Irons e David Thewlis, alguns momentos da banda sonora e ainda os cenários merecem as duas estrelas e meia que lhe daria se fosse crítica de cinema- mas a branda prestação de Orlando Bloom (apesar do talento falta-lhe talvez experiência e segurança- fico ansiosa à espera da parte dois de Piratas das Caraíbas) e as incongruências do argumento deitaram por terra as ambições megalómanas deste épico.
Como se não bastasse este desapontamento, a projecção do filme foi vergonhosa. As legendas começaram por estar desfocadas logo nos dez primeiros minutos do filme, facto que ignorei ostensivamente por pensar que a minha miopia estaria a pregar-me partidas. Mas a falta de nitidez do filme foi piorando cada vez mais, até que farta de tanta falta de profissionalismo - a uns 30 ou 40 minutos do fim e perante a inércia alheia- resolvi levantar-me para reclamar. Para meu espanto, pois pensava encontrar algum funcionário nas imediações da sala, tive de sair da sala e percorrer o corredor quase até à saída dos cinemas para encontrar alguém (mais tarde a gerente dir-me-ia com um ar convicto- está sempre um funcionário disponível!- como se fosse motivo de gáudio). Este funcionário (haja competência) prontamente resolveu o problema entrando em contacto imediato com a cabine de projecção. Quando regressei ao meu lugar, já se tinha reposto a normalidade.
Perante esta peripécia restou-me uma dúvida existencial: alguém teria lá ido se eu não estivesse na sala? Os Portugueses em geral refilam muito mas reclamam pouco pelas vias correctas e por vezes com pouca educação. Curiosamente, à saída, e próximo da bilheteira, estava um grupo que conversava sobre o incidente com a gerente, pelo que me aproximei para ouvir a sua explicação. Entre parafinas, bobines e outros termos técnicos que prontamente esqueci (tenho de comprar o tal Viagra da memória) lá argumentei que o que me pareceu foi que houve falta de profissionalismo do projeccionista, que não estava atento à projecção para ajustar a imagem. Blá blá blá e os outros presentes sugerem em tom de brincadeira uma compensação que a gerente contorna. Logo depois voltam à carga e afirmam que pelo menos moi devia ser compensada pela iniciativa de que todos beneficiaram. A dita jovem lá anuiu desculpando-se que não podia oferecer-nos (me and my hubbie) bilhetes naquele momento mas que se a vissemos por lá noutra ocasião o faria. Ora nós tinhamos acabado de comprar bilhetes para o famigerado Star Wars (dia 19) pelo que se tiver coragem talvez tenhamos oportunidade de confirmar se a jovem é de palavra.

2 Comments:

Blogger Carla Motah said...

Pelos vistos tu, sim, foste a protagonista de um filme paralelo: a odisseia num cinema de centro comercial dos tempos modernos. Mereces o final feliz que desejas, sem dúvida.
Bjs

6:17 da tarde  
Blogger Flávio said...

Em Portugal não é apenas difícil fazer filmes, também é penoso vê-los. Além da falta de civismo do público, há os projeccionistas. Outro problema corrente das projecções: o famigerado microfone que espreita no enquadramento e arruina completamente o gozo do filme.

2:56 da tarde  

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