quarta-feira, junho 29, 2005
Arrumações
Tenho andado um pouco seca de histórias (como diria a formiguita) e ainda não fui de férias. Insisto em arrumar ideias e incertezas, congeminar soluções e tentar não desesperar com inevitabilidades. Com a finalização do projecto do futuro lar e o cerimonial académico que se avizinha, as minhas prateleiras podiam ser multadas por excesso de carga. Para descontrair salvam-me os filmes e a esperança de visitar a FIA um destes dias.
P.S. Hoje à noite tenho um encontro marcado com as canções de António Variações mas isso já é outro post.
quarta-feira, junho 22, 2005
Ritos de Passagem
Se nas civilizações primitivas o cerimonial de transição para a vida adulta era marcante, na civilização ocidental a manifestação destes ritos é um pouco mais subliminar.
O que se segue pretende ser uma pequena contribuição para o manifesto que poderia intitular-se “Socorro, estou a tornar-me adulta” e reza assim:
Sei que já estou a ficar entradota quando:
- em vez de noitadas em bares com copos, amigos e muitos disparates para contar aos netos perdem-se horas de sono a trabalhar em frente ao computador
- andar a pé torna-se a excepção e conduzir o cogitómetro* pessoal torna-se a regra
- as horas passadas ao telefone com os amigos são cada vez mais substituídas por horas a pensar em telefonar aos amigos
- aquela tia indiscreta que sempre nos embaraçou com as suas perguntas sobre namorados agora pergunta “Então e bebés?”
- nas lojas hesita-se entre o “se a sra precisar de ajuda disponha” e “posso ajudá-la menina” (embora para meu gáudio a última versão por vezes ainda resista incauta da aliança que no meu dedo sinaliza a transição)
- surpreendo-me a entabular frases com expressões como “no meu tempo...” próprias de uma nostalgia oh tempo volta pra trás e a recriminar algumas atitudes alheias demasiado pueris do alto dos meus 72 anos
- escrevo posts para ter muitos comentários a acrescentar pontos a manifestos próprios de uma excentricidade britânica
* o cogitómetro, vulgo automóvel, é o lugar de reflexão por excelência onde se procede à tentativa de ordenação das prateleiras da vida, usualmente a caminho do local de trabalho.
O que se segue pretende ser uma pequena contribuição para o manifesto que poderia intitular-se “Socorro, estou a tornar-me adulta” e reza assim:
Sei que já estou a ficar entradota quando:
- em vez de noitadas em bares com copos, amigos e muitos disparates para contar aos netos perdem-se horas de sono a trabalhar em frente ao computador
- andar a pé torna-se a excepção e conduzir o cogitómetro* pessoal torna-se a regra
- as horas passadas ao telefone com os amigos são cada vez mais substituídas por horas a pensar em telefonar aos amigos
- aquela tia indiscreta que sempre nos embaraçou com as suas perguntas sobre namorados agora pergunta “Então e bebés?”
- nas lojas hesita-se entre o “se a sra precisar de ajuda disponha” e “posso ajudá-la menina” (embora para meu gáudio a última versão por vezes ainda resista incauta da aliança que no meu dedo sinaliza a transição)
- surpreendo-me a entabular frases com expressões como “no meu tempo...” próprias de uma nostalgia oh tempo volta pra trás e a recriminar algumas atitudes alheias demasiado pueris do alto dos meus 72 anos
- escrevo posts para ter muitos comentários a acrescentar pontos a manifestos próprios de uma excentricidade britânica
* o cogitómetro, vulgo automóvel, é o lugar de reflexão por excelência onde se procede à tentativa de ordenação das prateleiras da vida, usualmente a caminho do local de trabalho.
terça-feira, junho 21, 2005
Obrigada Possidónio!
PROFESSORES
Não sei em pormenor as razões da greve. Fiquei com a ideia que este Ministério teria avançado com uma série de propostas mais polémicas como estratégia negocial. Por exemplo, afirmam que não faz sentido um professor dar formação fora do seu horário lectivo, o que seria uma coisa ridícula porque implicaria entre outros aspectos que os secretários de estado e os deputados não usassem os telefones dos gabinetes ou o tempo em que lá se encontram para tratarem dos seus negócios e processos pendentes dos seus escritórios de advocacia, o que nunca se viu. Enfim, pareceu-me mais moeda de troca que outra coisa.Os últimos governos têm elegido como alvo os professores (leia-se do ensino básico e secundário porque no superior - que é onde eles ganham a vida - nunca tocam...) e principal razão do desiquilíbrio do financeiro do M. da Educação. Basta entrar numa escola para perceber que isto não faz sentido. Primeiro, há muitos outros funcionários além dos docentes. A maioria bastante improdutiva, para não dizer contraproducente, por sinal. Vão desde a vigilância e (falta de) limpeza às secretarias, etc, etc. Toda essa gente custa dinheiro. Muita é supranumerária. Depois, tem havido um esforço gigantesco das associações de pais com o beneplácito eleitoral dos governos para acabar com as férias dos professores. Reduzi-las ao mínimo, ao mês de Agosto, quando muito. Sobre este assunto proponho apenas aos pais esta imagem: pensem que organizavam festas de aniversário para 20 ou 30 crianças, várias vezes ao dia, durante toda a semana. Agora multipliquem isso por 10 meses. No fim, talvez percebam, como eu percebo, por que razão é necessário dar espaço à recuperação dos professores. E, não, não acho que a escola seja um depósito de crianças e adolescentes em delírio. É preciso manter os meninos fora da rua, enquanto os pais trabalham, mas aumentar o horário dos professores para essa tarefa é capaz de não ser solução.Não sei se os professores têm toda a razão para fazerem greve, mas duvido que sejam a principal causa dos males da educação.
Possidónio Cachapa in Prazer Inculto
segunda-feira, junho 20, 2005
10/7
O meu pulsar fraquinho da manhã. O calor nunca me agitou os dias, amolece-os como bolachas maria num copo de leite quente. Por isso gosto mais da minha energia de inverno, embora prefira a minha calma interior veranil, própria de férias, banhos e lazer.
sexta-feira, junho 17, 2005
Traições Televisivas (parte VII)
Programa da Oprah na Sic Mulher hoje o final da tarde. durante uma entrevista colectiva ao elenco da série Desperate Housewives Oprah a certa altura exclama, referindo-se à fala de uma das personagens da série: I love that line. It's a great line. Tradução: Adoro essa linha. É uma grande linha.
Não verifiquei a quem se devia a autoria desta pérola mas o programa costuma ser traduzido pela Pluridioma.
Leituras
Ontem o meu fim de tarde desaguou na praia. Finalmente ouviu o silêncio do mar. Bom, era mais mar e menos silêncio mas foi o meu primeiro dia de praia relaxante. Apesar do vento resolvi levar um livro que rapinei às prateleiras paternas, para me acompanhar na espera. O m-shelf fez-se ao mar e eu fiz-me às páginas de Luísa Costa Gomes, de quem nunca li nada. A curiosidade aguçada no encontro com Paul Auster (no qual ela esteve presente como amiga, leitora da versão portuguesa do livro apresentado e tradutora de serviço) deleitou-se ontem em passos como este:
Talvez se exagere o martírio das pessoas muito bonitas. Mas é verdade que as impregna um género de graça divinal, atraente por ser um dos múltiplos sinais da existência d’Aquele e repelente, ao ser tão inefável que nos sentimos atirados borda fora como albaneses. Pressente-se que a beleza seja contagiosa e anda-se sempre à volta das pessoas muito bonitas à espera que desbote sobre nós. Mas não as compreendemos, é impossível compreendê-las, estão fora do mundo.
Talvez se exagere o martírio das pessoas muito bonitas. Mas é verdade que as impregna um género de graça divinal, atraente por ser um dos múltiplos sinais da existência d’Aquele e repelente, ao ser tão inefável que nos sentimos atirados borda fora como albaneses. Pressente-se que a beleza seja contagiosa e anda-se sempre à volta das pessoas muito bonitas à espera que desbote sobre nós. Mas não as compreendemos, é impossível compreendê-las, estão fora do mundo.
Olhos Verdes de Luísa Costa Gomes
quinta-feira, junho 16, 2005
GRRRRRRR!
Num momento de fraqueza, tendo chegado a casa ofegante e incomodada com o calor que se fazia sentir no bólide durante o regresso a casa, esparramei-me no sofá e liguei a televisão enquanto bebia água desalmadamente para repor o equilíbrio hídrico do corpo. Entrou-me pela retina um daqueles programas na moda em que o público tem o direito de telefonar e dizer barbaridades em directo. A questão a comentar era se a greve de professores iria afectar os exames nacionais. Como já nada me espanta, pois cada vez mais os professores são objecto de análises erradas, desajustadas, propensas a generalizações fáceis e juízos injustos, não me engasguei ao ouvir uma professora reformada de 70 anos lamentar o facto de os coitadinhos dos netinhos estarem muito enervados com esta instabilidade da qual os professores eram culpados, e que não compreendia porque é que estes últimos tinham de fazer greve nesta altura. Outra mãe muito preocupada com o desempenho dos filhos, afirmava ser uma injustiça ter de modificar os seus planos de férias por causa de um capricho dos professores, e que além disso estes tiveram um ano inteiro para fazer greve e já usufruem de muitas regalias.
Estarei eu equivocada ou os alunos têm mesmo de estudar para os exames, qualquer que seja a data em que estes se realizem?
Estarei também eu a generalizar ou muitos dos zelosos pais que agora tão preocupadamente expõem a sua indignação, face a um direito legal, são os mesmos que põem em primeiro lugar as férias e depois a educação dos seus filhos? (Serão talvez aqueles que também acham inconsequente faltar à escola para ir passar férias, como tantas e tantas vezes se constata através das justificações enviadas aos directores de turma através das cadernetas escolares)
E eu podia continuar aqui a exercer o meu igualmente inalienável direito a uma opinião mas tenho de ir trabalhar, porque apesar das minhas muitas regalias tenho também o gozo de fazer horas extraordinárias não pagas em casa a preparar aulas, corrigir testes e fazer sessões de terapia conjugal para tentar lidar com os dilemas pedagógicos com que me confronto. Mas claro que isto é por si só uma regalia, poder realizar estas tarefas no conforto do lar, que eu não sei reconhecer.
Estarei eu equivocada ou os alunos têm mesmo de estudar para os exames, qualquer que seja a data em que estes se realizem?
Estarei também eu a generalizar ou muitos dos zelosos pais que agora tão preocupadamente expõem a sua indignação, face a um direito legal, são os mesmos que põem em primeiro lugar as férias e depois a educação dos seus filhos? (Serão talvez aqueles que também acham inconsequente faltar à escola para ir passar férias, como tantas e tantas vezes se constata através das justificações enviadas aos directores de turma através das cadernetas escolares)
E eu podia continuar aqui a exercer o meu igualmente inalienável direito a uma opinião mas tenho de ir trabalhar, porque apesar das minhas muitas regalias tenho também o gozo de fazer horas extraordinárias não pagas em casa a preparar aulas, corrigir testes e fazer sessões de terapia conjugal para tentar lidar com os dilemas pedagógicos com que me confronto. Mas claro que isto é por si só uma regalia, poder realizar estas tarefas no conforto do lar, que eu não sei reconhecer.
terça-feira, junho 14, 2005
sábado, junho 11, 2005
E esta hein!
Como se não bastasse o terceiro mundismo galopante de que este país padece agora temos por cá as suas piores evidências. Ao menos como consolação podemos ter a certeza que isto nunca aconteceria no recinto feira do livro. Ou não podemos?
sexta-feira, junho 10, 2005
Fazer qualquer coisa neste fim-de-semana (porque sim)
Sin City ontem: gloriosa fotografia, muito fiel ao ambiente BD original (imagino que sim pois não a conheço) mas tive a ligeira sensação que estava a assistir a uma sessão para machos libidinosos, com fantasias sexuais invariavelmente povoadas de mulheres armadas e com nádegas desnudas esculpidas em mármore. Será esta militarização erótica da mulher uma fantasia recorrente? I wonder. Gostei bastante mas não me diverti o suficiente para sequer sorrir(na sala as gargalhadas masculinas eram recorrentes q.b.).
Hoje: Adormeci e já não fui à praia como combinado. Tarde de lazer nerdy a responder a inquéritos como este aqui em baixo, a propósito de uma série que venero, enquanto espero pelo m-shelf para finalmente ir à feira do livro e salvar o indolente dia.
You're Susan! You are generally a very self-possessed and sensible person. Aggressive when needed.
Who is your inner Coupling character?
brought to you by Quizilla
quinta-feira, junho 09, 2005
Lamúrias
Uma professora de faculdade, Marie Boucherie Mendes, mulher de fibra, convicções e dona de um entusiamo contagiante pela literatura, costumava dizer que devemos aproveitar para nos queixarmos enquanto somos jovens e ainda nos ouvem, porque aos velhos ninguém lhes tolera as lamúrias infindáveis. Costumo seguir o conselho à risca, talvez em demasia, pois a minha natureza pessimista sempre me dominou, em jeito de hope for the best and prepare for the worst. O meu ser é feito de fraquezas e incongruências que por vezes se me tornam insuportáveis mas que não consigo evitar como gostaria.
(E seria bom que ao menos esta vaga de calor e inércia que me assola me sublimasse a verve...)
quarta-feira, junho 08, 2005
Blogo ou existo?
Que fazer quando a vida nos ocupa todo o espaço mental e parece que não temos nada a dizer por causa da desordem que impera no enxame de ideias que nos assolam e nos deixam cansados de tanta insistência e rotina?
terça-feira, junho 07, 2005
Na ribeira deste rio
Na ribeira deste rio
Ou na ribeira daquele
Passam meus dias a fio.
Nada me impele, me impele,
Me dá calor ou dá frio.
Vou vendo o que o rio faz
Quando o rio não faz nada.
Vejo os rastros que ele traz,
Numa sequência arrastada,
Do que ficou para trás.
Vou vendo e vou meditando,
Não bem no rio que passa
Mas só no que estou pensando,
Porque o bem dele é que faça
Eu não ver que vai passando.
Vou na ribeira do rio
Que está aqui ou ali,
E do seu curso me fio,
Porque, se o vi ou não vi.
Ele passa e eu confio.
Fernando Pessoa
domingo, junho 05, 2005
sábado, junho 04, 2005
sexta-feira, junho 03, 2005
O Perfume
Um dos meus livros preferidos vai ser adaptado ao grande ecrã. Nas minhas prateleiras, enquanto o li, sempre imaginei que a sua adaptação cinematográfica obrigasse à utilização de uma sala especial com recurso a vaporizadores, para melhor enquadrar a intensidade dramática do enredo. Qualquer coisa semelhante ao filme projectado num dos pavilhões da Expo 98 (não me recordo ao certo qual) em que o público era borrifado com água. Sim, mas isso era antes, quando as prateleiras estavam repletas de sonhos sobre ser argumentista em Hollywood(imagine-se!).
Spielberg & The Beatles
Legendary filmmaker Steven Spielberg has been voted the greatest director of all time.
Mas foi preciso esperar anos pelo reconhecimento da Academia.
Ansiedade
Ao que parece a Educação Sexual nas escolas vai mesmo para a frente. Que é necessária todos sabemos (ainda ontem tive conhecimento de mais dois casos de gravidez adolescente) mas em que termos será implementada? Terão os professores formação específica e haverá um programa obrigatório condigno de tal nome? A ver vamos.