GRRRRRRR!
Num momento de fraqueza, tendo chegado a casa ofegante e incomodada com o calor que se fazia sentir no bólide durante o regresso a casa, esparramei-me no sofá e liguei a televisão enquanto bebia água desalmadamente para repor o equilíbrio hídrico do corpo. Entrou-me pela retina um daqueles programas na moda em que o público tem o direito de telefonar e dizer barbaridades em directo. A questão a comentar era se a greve de professores iria afectar os exames nacionais. Como já nada me espanta, pois cada vez mais os professores são objecto de análises erradas, desajustadas, propensas a generalizações fáceis e juízos injustos, não me engasguei ao ouvir uma professora reformada de 70 anos lamentar o facto de os coitadinhos dos netinhos estarem muito enervados com esta instabilidade da qual os professores eram culpados, e que não compreendia porque é que estes últimos tinham de fazer greve nesta altura. Outra mãe muito preocupada com o desempenho dos filhos, afirmava ser uma injustiça ter de modificar os seus planos de férias por causa de um capricho dos professores, e que além disso estes tiveram um ano inteiro para fazer greve e já usufruem de muitas regalias.
Estarei eu equivocada ou os alunos têm mesmo de estudar para os exames, qualquer que seja a data em que estes se realizem?
Estarei também eu a generalizar ou muitos dos zelosos pais que agora tão preocupadamente expõem a sua indignação, face a um direito legal, são os mesmos que põem em primeiro lugar as férias e depois a educação dos seus filhos? (Serão talvez aqueles que também acham inconsequente faltar à escola para ir passar férias, como tantas e tantas vezes se constata através das justificações enviadas aos directores de turma através das cadernetas escolares)
E eu podia continuar aqui a exercer o meu igualmente inalienável direito a uma opinião mas tenho de ir trabalhar, porque apesar das minhas muitas regalias tenho também o gozo de fazer horas extraordinárias não pagas em casa a preparar aulas, corrigir testes e fazer sessões de terapia conjugal para tentar lidar com os dilemas pedagógicos com que me confronto. Mas claro que isto é por si só uma regalia, poder realizar estas tarefas no conforto do lar, que eu não sei reconhecer.
Estarei eu equivocada ou os alunos têm mesmo de estudar para os exames, qualquer que seja a data em que estes se realizem?
Estarei também eu a generalizar ou muitos dos zelosos pais que agora tão preocupadamente expõem a sua indignação, face a um direito legal, são os mesmos que põem em primeiro lugar as férias e depois a educação dos seus filhos? (Serão talvez aqueles que também acham inconsequente faltar à escola para ir passar férias, como tantas e tantas vezes se constata através das justificações enviadas aos directores de turma através das cadernetas escolares)
E eu podia continuar aqui a exercer o meu igualmente inalienável direito a uma opinião mas tenho de ir trabalhar, porque apesar das minhas muitas regalias tenho também o gozo de fazer horas extraordinárias não pagas em casa a preparar aulas, corrigir testes e fazer sessões de terapia conjugal para tentar lidar com os dilemas pedagógicos com que me confronto. Mas claro que isto é por si só uma regalia, poder realizar estas tarefas no conforto do lar, que eu não sei reconhecer.
7 Comments:
Grrrrrrrrrrr me too!Sabes, Ti, eu acho que isto é o que eles querem. Quanto mais descrediblizarem os professores, melhor!
Beijinhos
Não conheço a substância da greve... por isso não ouso pronunciar-me sobre a sua bondade. Mas salta um bocado à vista o timing da mesma. Se há pais que se enervam com a greve por causa das férias, temos de convir que a mudança da época de exames pode causar muito transtorno pelas mais variadas razões.
Nunca discuti o inalienável e constitucional direito à greve. Deveria era existir o inalienável e constitucional direito dos cidadãos não serem SEVERAMENTE prejudicados por gerves que, frequentemente, não servem a ninguém nem a nada que não seja a sindicalistas que fazem disso mesmo uma carreira, no matter what, sem qualquer enquadramento que não seja o seu próprio benefício.
Desculpa se de alguma forma estou a ser injusto contigo, neste caso vertente. Palavra de honra que desconheço as razões da greve. Mas os exemplos são tantos, as razões são tão pífias e atentatórias dos direitos dos cidadãos, que fico sempre um bocadinho de pé atrás com o estratégico timing de muitas das greves.
E não tenho nenhum filho no secundário. Tenho uma jovem já na universidade.
Outra coisa, Ti, sério, não fico à espera que me expliques as razões da greve. Percebo-te cansada e o que menos deves precisar agora é dares explicações a uma "aquaintance" de ocasião, que é o que eu sou :)
Beijinho e que tudo corra bem e que descanses e continues a postar com a graça habitual
Beijinho
madalena
É mesmo! E custa horrores este processo.
espumante
tal como a madalena disse estou menos preocupada com as razões das greves e dos sindicalistas que são frequentemente a voz do dono, e muito mais com a descredibilização injusta que os professores têm sofrido nos últimos tempos. Enfurece-me saber que vou prestar provas de mestrado depois de um trabalho árduo e continuado e que posso não vir a beneficiar nada com isso, para além da formação em si claro, pois uma das medidas que está na calha é a congelação das progressões de carreira que estão a ser todas metidas no mesmo saco e chamadas de automáticas.
Tenho o mesmo odiozinho de estimação que tu pelos sindicalistas de pacotilha mas infelizmente não existe ainda nenhum sindicato de professores sem afeições políticas, pelo que são talvez um mal necessário. Quanto a esta greve, não sei se terá sido correcta no modo como foi convocada à última hora, mas também sempre fiu contra as greves vergonhosas à sexta-feira, e das vezes que fiz greve (poucas) estive no local trabalho, pois parece-me que assim é que deve ser.
Aqui para nós espumante não sei também eu as outras razões da greve, mas custa-me muito engolir anos e anos de amigos, familiares e conhecidos dizerem que trabalhamos pouco e temos muito benefícios, de entre os quais um bom salário. Enfim, pelo menos voltei a postar ;)
espumante
Obrigada pela força, na verdade preciso mesmo de descansar e preparar-me para a outra grande etapa que se avizinha.
Madalena
Coração apertado e cara alegre, que os miúdos não têm culpa e eu ainda tenho mais uma semana de aulas.
Beijinhos aos dois
espumante
as razões para a greve encontra-las aqui:
http://blogotinha.blogspot.com/2005/06/greve.html
Chego à conclusão que até sabia destas razões só que não as tinha assim tão organizadas nas prateleiras ;)
Pois as razões são muitas. É engraçado que quando os médicos fazem greve e esquecem alguns pontos do juramento de Hipócrates ninguém se insurge. Se calhar é pior adiar o exame para Agosto do que ver um avô ou avó perder a vida porque há apenas um médico e um enfermeiro nas urgências, devido á greve.
Disso ninguém fala, certo?
Fazendo greve ou não, não admito que se estejam agora só a preocupar com os alunos.Os professores querem que eles façam os exames pois é o fruto do trabalho por eles empreendido. Não é a greve que faz dos profs papões, não é?
Gostei do post e beijinhos.
Ah acho que podes ficar descansada porque no teu caso a progressão não é considerada automática. Foi-me dito por um colega todo sindicalista (seja isso bom ou mau).
Beijinhos
Para que conste, foi a pressa que me fez colocar o acento de forma errada. "devido à greve" é a forma correcta.
Defeitos do ofício...sempre com atenção às pequenas gralhas...
beijos
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