quarta-feira, novembro 30, 2005

Bairrismos bacocos

Quase tentada a enviar um email ao portuense-bairrista-obcecado mais intolerável, e com maior débito por minuto de réplicas imbuídas da cassete pinto-costense, do país só para lhe dizer que afinal não acontece tuuuudo em terras mouras e que uma banda de culto dos eighties irá dar um único concerto em Portugal, agendado para o Coliseu da Invicta, sem direito a data suplementar nem visita à capital. É a tal descentralização, não?
P.S. Gosto de cultivar os odiozinhos (mantêm-me alerta e apimentam a existência) e como tal não resisti a uma espreitadela à página pessoal de tal criatura. Apreciei sobremaneira a sua secção intitulada frases. Um exercício de puro narcisismo pseudo-intelectualóide que podia ter saído de um dos sketches da equipa Gato Fedorento.

Porque sim!

Porque todos temos odiozinhos de estimação que nos envenenam a alma e toldam o raciocínio e porque ontem ao ouvir as notícias (oh why do I bother!) fiquei a saber que os Pedras Rolantes vão voltar a Portugal (preferia ter sido informada atempadamente do recital de Yo-Yo Ma de hoje que já está esgotado há meses suponho eu ARRRGGG!) aqui vai um exercício de catarse pessoal sob forma de votação. Todos a carregar no botãozinho!
E para que conste, gosto de música portuguesa. Apenas me desagrada profundamente a cristalização no tempo de alguns artistas que teimam em arrastar-se sem criar nada de novo.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Natalar

Num dia cinza-pardo e frio como este apetece-me natalar. Embuir-me do espirito natalício até à medula, cantar coros de natal, comer nozes e figos secos embrulhada numa mantinha da Escócia, e esperar pela noite de consoada para rever familiares e reviver histórias da infância em conjunto. Mas eis que o toque de entrada para a aula das 13.35 me acorda do meu sonho diurno.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Harry Cocker

Como se não bastasse todo o desfile de actores-estrelas no elenco, a produção da última aventura de Harry Potter foi buscar o vocalista (Jarvis Cocker o nerd aqui ao lado) dos defuntos Pulp para compor a banda sonora. Uma bela surpresa.

Daqui a sete meses

mais coisa menos coisa, e depois de dez anos a praticar profissionalmente com filhos alheios, vou começar a aplicar as minhas melhores pedagogias, argumentos e olhares reprovadores em seara própria. Viagem fascinante que se espera atribulada e cheia de surpresas como não poderia deixar de ser. Para além do sono, da fome e do cansaço que me têm mantido longe do teclado ultimamente. (como alguém perguntou, eu respondo)

domingo, novembro 20, 2005

Os jornalistas coitados e as pestes das criancinhas

Reportagem de rua a propósito da inauguração da árvore de Natal gigante na Praça do Comércio. A repórter da SIC pergunta a uma criança que idade tem. Criança de muito tenra idade,visivelmente confusa e ofuscada com tanta luz, debita o que lhe vai na alma com a franqueza própria da idade: Quero fazer xixi.

Testes de domingo

8+ (Medianamente dotada) Humanista (C e E dominantes).
Você também pode ser escritor? gentilmente difundido no Esplanar.

terça-feira, novembro 15, 2005

Das alegrias da docência e outras doudeiras

Cada vez menos me surpreende a falta de criatividade linguística das minhas populações discentes (sim populações, ou como deverei apelidar grupos heterogéneos de 28 indivíduos ou mais?). Hoje, quando virei costas para assomar à porta e recorrer à auxiliar de acção educativa do pavilhão onde leccionava, fui brindada com a expressão: Pikachu do orgão sexual masculino (em versão português vernáculo). Se bem tive a ocasião de lembrar há pouco tempo, quando por acaso reencontrei uma ex-colega de turma, no 9ºano, esses tempos saudosos e despreocupados, uma das professoras foi (sem saber, como convém nestas circunstâncias) por ela alcunhada de Bafo de Onça. Ora, ignorando oportunamente o potencial destrutivo de tal designação (que aliás nunca foi activado, pois a alcunha morreu com aquela turma e a professora em questão nunca foi confrontada com ela) não deixa de ser curioso que o tal epíteto demonstre alguma inventividade no modo como adolescentes atentos revelavam, desta forma inaudita, a sua dificuldade em suportar o hálito de fumadora inveterada da referida professora.
Mas para desanuviar deste episódio dantesco, e antes que os dedos me escapem para aquele célebre intróito do No meu tempo fica um desafio (muito pouco) literário (a parte das outras doudeiras é agora!). Completar a ladainha que se segue, fruto imposto ao cérebro cansado numa destas noites e que reza assim:
Lá vem o frio
Lá vem a aguada
Foi-se o Estio
Fico enregelada
Manta no regaço
Chinelo no pé
...

domingo, novembro 13, 2005

Requiem

Under the wide and starry sky,
Dig the grave and let me lie.
Glad did I live and gladly die,
And I laid me down with a will.

This be the verse you grave for me:
Here he lies where he longed to be;
Home is the sailor, home from sea,
And the hunter home from the hill.

Robert Louis Stevenson (13-11-1850 /3-12-1894)


Alimentado pelos contornos extravagantes da sua personalidade carismática, o carácter literário de Robert Louis Stevenson, conotado, a espaços, essencialmente com a ligeireza da escrita para crianças ou a mediocridade artística, estará longe de reunir consensos irrefutáveis e redundar numa glorificação respeitosa.
Ainda que cultivada pelo próprio, a herança de Stevenson terá ficado indelevelmente desvirtuada pela sua pretensa exuberância pessoal, o que culminou em décadas de proscrição literária. Muitos dos estudos biográficos sobre o autor perscrutaram essa vertente, enfatizando a absoluta impossibilidade da dissociação da sua vida e obra.
Todavia, este passado estigmatizado pela controvérsia e descrédito, dilui-se perante o enquadramento crítico presente, em que o interesse pela sua incomparável prolixidade literária, no contexto do século XIX, se reafirma.
Apesar de pouco valorizado em termos de canône literário, Stevenson nunca perdeu a popularidade junto do público leitor, e as profusas incursões pela miríade de géneros com que asseverava a sua versatilidade, bem como uma capacidade de equilibrar elementos contraditórios e veicular interpretações da natureza humana, contribuíram indubitavelmente para este recém-descoberto interesse, a que não terá sido também alheia a circunstância da aproximação iminente de uma quadra de fim de século.
Quer em virtude da sua saúde frágil e susceptível; quer do próprio nomadismo que esta lhe impunha, na incessante busca da conjuntura climatérica que se revelasse mais auspiciosa para os seus projectos de vida e menos hostil para os seus padecimentos respiratórios; ou até mesmo em virtude da determinação com que pugnava por afirmar-se como entidade literária singular; a fecundidade literária de Robert Louis Stevenson está incontestavelmente entrelaçada na teia da sua vida.
Contudo, as incursões pela literatura de viagem, pela poesia, pela narrativa de aventuras, pelo romance ou pelo ensaio raramente lhe granjearam uma recepção crítica elogiosa durante a sua contemporaneidade. Conotado com a escrita para crianças dos primórdios da sua carreira literária, Stevenson não logrou libertar-se das limitações que tal epíteto lhe imputava. Não raro, a retumbante aprovação do público esmorecia perante a indiferença do universo da crítica literária.
A popularidade de Stevenson teve efeitos nefastos e inusitados na sua carreira literária, sendo que uma das causas mais significativas na origem desta falta de reconhecimento artístico é o facto de o interesse pelo homem ter quase sempre suplantado o interesse pela obra.
Porém, a centelha vital da obra de Stevenson terá sido sempre a sua existência e se na inventabilidade reside grande parte do seu reconhecido valor, esta será a consequência incontestável de uma vida repleta de novas e excitantes experiências que alimentam de fascínio a escrita.
Reconhecido pelos seus pares, afrontado pela crítica e popularizado pelos leitores, a reputação de Robert Louis Stevenson começa lentamente a recuperar do obscurantismo a que foi votada a sua obra, reconquistando-se a sua verdadeira essência enquanto autor multifacetado.

Este texto constitui parte integrante –e fragmentária - de um percurso que durante três anos empreendi na investigação e análise de uma das obras mais populares deste autor escocês, Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde. Em jeito de homenagem e celebração daquele que seria o dia de mais um aniversário deste homem fascinante e acalentando o desejo de que se restitua o interesse e reconhecimento pelo seu vasto e variegado espólio literário segue uma lista de alguns links:
The Robert Louis Stevenson Website- um dos sites de referência académica assinado por Richard Dury. Para visitar com muito tempo e olhos de ver. Um mundo dentro de outro mundo.
Stevenson House- a casa de Edimburgo onde Stevenson habitou na infância adoentada (pode inclusivamente fazer-se marcações para pernoitar no antigo quarto do autor).
Robert Louis Stevenson 1850-1894- Exposição online que assinala o centenário do desaparecimento de RLS.
Strange Case of Dr. Jekyll and Mr.Hyde- para quem quiser ler no original.
John Singer Sargent- galeria online de obras do pintor norte-americano autor do retrato mais inquietante de Stevenson intitulado Robert Louis Stevenson and his Wife.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Sabedoria popular*

A cada Bacorinho, vem seu S. Martinho.
Não há bacorinho sem seu S. Martinho.
No dia de S. Martinho vai à adega e prova o vinho.
No dia de S. Martinho, mata o teu porco e prova o teu vinho.
No dia de S. Martinho: lume, castanhas e vinho.
Pelo S. Martinho todo o mosto é bom vinho.
Pelo S. Martinho, deixa a água pró moinho.
Quem bebe no S. Martinho, faz de velho e de menino.
Queres pasmar o teu vizinho? Lavra e esterca p'lo S. Martinho.
Se o Inverno não erra caminho, têmo-lo pelo S. Martinho.

*em honra de S.Martinho.

domingo, novembro 06, 2005

A penumbra de domingo e a preguiça de Outono


Quando a tarde de domingo se emsombra e o cair da noite se adivinha eu tenho saudades da WonderWoman. Constatar tudo aquilo que ficou por fazer em mais um fim-de-semana que passa deixa-me assim, em desejos de ter poderes extra-humanos para correr contra o tempo e atrasar o relógio para amanhã ser domingo outra vez.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Blogoviagens

Às vezes ponho-me a pensar que isto de ler diários cibernéticos todos os dias tem o seu quê de voyeurismo. Talvez não no sentido doentio e obcecado que o termo suscita, mas no da curiosidade que se satisfaz na perscrutação da vida alheia. Gosto especialmente de blogs escritos por portugueses/portuguesas no estrangeiro pois o choque cultural é especialmente rico em aprendizagens e experiências. Esta minha curiosidade vem-me do tempo em que frequentava a faculdade e sonhava com um ano de Erasmus, oportunidade que nunca se concretizou por diversas razões, mas em grande parte pela minha falta de espírito aventureiro. Por outro lado, visitar blogs é uma maneira barata de viajar, de conhecer novas paragens e realidades, novos hábitos, línguas e sabores e preparar mentalmente as próximas férias, passatempo bem prazeiroso quando lá fora chove torrencialmente.