Under the wide and starry sky,
Dig the grave and let me lie.
Glad did I live and gladly die,
And I laid me down with a will.
This be the verse you grave for me:
Here he lies where he longed to be;
Home is the sailor, home from sea,
And the hunter home from the hill.
Robert Louis Stevenson (13-11-1850 /3-12-1894)
Alimentado pelos contornos extravagantes da sua personalidade carismática, o carácter literário de Robert Louis Stevenson, conotado, a espaços, essencialmente com a ligeireza da escrita para crianças ou a mediocridade artística, estará longe de reunir consensos irrefutáveis e redundar numa glorificação respeitosa.
Ainda que cultivada pelo próprio, a herança de Stevenson terá ficado indelevelmente desvirtuada pela sua pretensa exuberância pessoal, o que culminou em décadas de proscrição literária. Muitos dos estudos biográficos sobre o autor perscrutaram essa vertente, enfatizando a absoluta impossibilidade da dissociação da sua vida e obra.
Todavia, este passado estigmatizado pela controvérsia e descrédito, dilui-se perante o enquadramento crítico presente, em que o interesse pela sua incomparável prolixidade literária, no contexto do século XIX, se reafirma.
Apesar de pouco valorizado em termos de canône literário, Stevenson nunca perdeu a popularidade junto do público leitor, e as profusas incursões pela miríade de géneros com que asseverava a sua versatilidade, bem como uma capacidade de equilibrar elementos contraditórios e veicular interpretações da natureza humana, contribuíram indubitavelmente para este recém-descoberto interesse, a que não terá sido também alheia a circunstância da aproximação iminente de uma quadra de fim de século.
Quer em virtude da sua saúde frágil e susceptível; quer do próprio nomadismo que esta lhe impunha, na incessante busca da conjuntura climatérica que se revelasse mais auspiciosa para os seus projectos de vida e menos hostil para os seus padecimentos respiratórios; ou até mesmo em virtude da determinação com que pugnava por afirmar-se como entidade literária singular; a fecundidade literária de Robert Louis Stevenson está incontestavelmente entrelaçada na teia da sua vida.
Contudo, as incursões pela literatura de viagem, pela poesia, pela narrativa de aventuras, pelo romance ou pelo ensaio raramente lhe granjearam uma recepção crítica elogiosa durante a sua contemporaneidade. Conotado com a escrita para crianças dos primórdios da sua carreira literária, Stevenson não logrou libertar-se das limitações que tal epíteto lhe imputava. Não raro, a retumbante aprovação do público esmorecia perante a indiferença do universo da crítica literária.
A popularidade de Stevenson teve efeitos nefastos e inusitados na sua carreira literária, sendo que uma das causas mais significativas na origem desta falta de reconhecimento artístico é o facto de o interesse pelo homem ter quase sempre suplantado o interesse pela obra.
Porém, a centelha vital da obra de Stevenson terá sido sempre a sua existência e se na inventabilidade reside grande parte do seu reconhecido valor, esta será a consequência incontestável de uma vida repleta de novas e excitantes experiências que alimentam de fascínio a escrita.
Reconhecido pelos seus pares, afrontado pela crítica e popularizado pelos leitores, a reputação de Robert Louis Stevenson começa lentamente a recuperar do obscurantismo a que foi votada a sua obra, reconquistando-se a sua verdadeira essência enquanto autor multifacetado.
Este texto constitui parte integrante –e fragmentária - de um percurso que durante três anos empreendi na investigação e análise de uma das obras mais populares deste autor escocês, Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde. Em jeito de homenagem e celebração daquele que seria o dia de mais um aniversário deste homem fascinante e acalentando o desejo de que se restitua o interesse e reconhecimento pelo seu vasto e variegado espólio literário segue uma lista de alguns links:
The Robert Louis Stevenson Website- um dos sites de referência académica assinado por Richard Dury. Para visitar com muito tempo e olhos de ver. Um mundo dentro de outro mundo.
Stevenson House- a casa de Edimburgo onde Stevenson habitou na infância adoentada (pode inclusivamente fazer-se marcações para pernoitar no antigo quarto do autor).