diz ela. A grávida fica atónita. Nem sequer tinha insinuado qualquer intenção de pedir aquilo que de direito é seu- sentar-se num dos lugares especialmente reservados para o efeito no combóio.*
A estupidez também não é doença- afirmo eu, mas corre risco de tornar-se uma epidemia grave. Mais grave ainda se considerarmos que as vítimas desta epidemia são sobretudo mulheres, como aquela e como tantas outras, que insistem em perpetuar uma falta de solidariedade atroz perante a gravidez de outrem- como se dissessem "eu sou de ferro e aguentei tudo sem ajudas, tu também tens de aguentar".
Por uma questão de princípio, nos hipermercados nunca utilizo as caixas de pagamento prioritárias. Eu posso esperar. Mesmo que não tenha tempo. No entanto, durante a minha gravidez foi muitas vezes notório o desagrado de pessoas que nessa caixa eram ultrapassadas por mim e certa vez na Ikea ouvi mesmo um indivíduo acompanhado da namorada retorquir : "Diz que estás grávida de dois meses". Claro que eu fervi e fiz-lhe notar que a caixa era própria para o efeito e que eu não estava a desrespeitar ninguém ao passar à frente, mas enfim... Talvez não tenha valido de nada. Ele continuará intolerante e pouco solidário e eu continuarei revoltada cada vez que vejo uma pessoa em cadeira de rodas tentar fazer a sua vida diária no nosso país obstáculo.
*Situação verídica que ocorreu em hora de ponta com uma colega de trabalho.