quinta-feira, junho 16, 2005

GRRRRRRR!

Num momento de fraqueza, tendo chegado a casa ofegante e incomodada com o calor que se fazia sentir no bólide durante o regresso a casa, esparramei-me no sofá e liguei a televisão enquanto bebia água desalmadamente para repor o equilíbrio hídrico do corpo. Entrou-me pela retina um daqueles programas na moda em que o público tem o direito de telefonar e dizer barbaridades em directo. A questão a comentar era se a greve de professores iria afectar os exames nacionais. Como já nada me espanta, pois cada vez mais os professores são objecto de análises erradas, desajustadas, propensas a generalizações fáceis e juízos injustos, não me engasguei ao ouvir uma professora reformada de 70 anos lamentar o facto de os coitadinhos dos netinhos estarem muito enervados com esta instabilidade da qual os professores eram culpados, e que não compreendia porque é que estes últimos tinham de fazer greve nesta altura. Outra mãe muito preocupada com o desempenho dos filhos, afirmava ser uma injustiça ter de modificar os seus planos de férias por causa de um capricho dos professores, e que além disso estes tiveram um ano inteiro para fazer greve e já usufruem de muitas regalias.


Estarei eu equivocada ou os alunos têm mesmo de estudar para os exames, qualquer que seja a data em que estes se realizem?
Estarei também eu a generalizar ou muitos dos zelosos pais que agora tão preocupadamente expõem a sua indignação, face a um direito legal, são os mesmos que põem em primeiro lugar as férias e depois a educação dos seus filhos? (Serão talvez aqueles que também acham inconsequente faltar à escola para ir passar férias, como tantas e tantas vezes se constata através das justificações enviadas aos directores de turma através das cadernetas escolares)
E eu podia continuar aqui a exercer o meu igualmente inalienável direito a uma opinião mas tenho de ir trabalhar, porque apesar das minhas muitas regalias tenho também o gozo de fazer horas extraordinárias não pagas em casa a preparar aulas, corrigir testes e fazer sessões de terapia conjugal para tentar lidar com os dilemas pedagógicos com que me confronto. Mas claro que isto é por si só uma regalia, poder realizar estas tarefas no conforto do lar, que eu não sei reconhecer.

7 Comments:

Blogger Madalena said...

Grrrrrrrrrrr me too!Sabes, Ti, eu acho que isto é o que eles querem. Quanto mais descrediblizarem os professores, melhor!
Beijinhos

10:27 da tarde  
Blogger Nelson Reprezas said...

Não conheço a substância da greve... por isso não ouso pronunciar-me sobre a sua bondade. Mas salta um bocado à vista o timing da mesma. Se há pais que se enervam com a greve por causa das férias, temos de convir que a mudança da época de exames pode causar muito transtorno pelas mais variadas razões.
Nunca discuti o inalienável e constitucional direito à greve. Deveria era existir o inalienável e constitucional direito dos cidadãos não serem SEVERAMENTE prejudicados por gerves que, frequentemente, não servem a ninguém nem a nada que não seja a sindicalistas que fazem disso mesmo uma carreira, no matter what, sem qualquer enquadramento que não seja o seu próprio benefício.
Desculpa se de alguma forma estou a ser injusto contigo, neste caso vertente. Palavra de honra que desconheço as razões da greve. Mas os exemplos são tantos, as razões são tão pífias e atentatórias dos direitos dos cidadãos, que fico sempre um bocadinho de pé atrás com o estratégico timing de muitas das greves.
E não tenho nenhum filho no secundário. Tenho uma jovem já na universidade.
Outra coisa, Ti, sério, não fico à espera que me expliques as razões da greve. Percebo-te cansada e o que menos deves precisar agora é dares explicações a uma "aquaintance" de ocasião, que é o que eu sou :)
Beijinho e que tudo corra bem e que descanses e continues a postar com a graça habitual
Beijinho

10:45 da tarde  
Blogger t-shelf said...

madalena
É mesmo! E custa horrores este processo.

espumante
tal como a madalena disse estou menos preocupada com as razões das greves e dos sindicalistas que são frequentemente a voz do dono, e muito mais com a descredibilização injusta que os professores têm sofrido nos últimos tempos. Enfurece-me saber que vou prestar provas de mestrado depois de um trabalho árduo e continuado e que posso não vir a beneficiar nada com isso, para além da formação em si claro, pois uma das medidas que está na calha é a congelação das progressões de carreira que estão a ser todas metidas no mesmo saco e chamadas de automáticas.
Tenho o mesmo odiozinho de estimação que tu pelos sindicalistas de pacotilha mas infelizmente não existe ainda nenhum sindicato de professores sem afeições políticas, pelo que são talvez um mal necessário. Quanto a esta greve, não sei se terá sido correcta no modo como foi convocada à última hora, mas também sempre fiu contra as greves vergonhosas à sexta-feira, e das vezes que fiz greve (poucas) estive no local trabalho, pois parece-me que assim é que deve ser.
Aqui para nós espumante não sei também eu as outras razões da greve, mas custa-me muito engolir anos e anos de amigos, familiares e conhecidos dizerem que trabalhamos pouco e temos muito benefícios, de entre os quais um bom salário. Enfim, pelo menos voltei a postar ;)

10:34 da manhã  
Blogger t-shelf said...

espumante
Obrigada pela força, na verdade preciso mesmo de descansar e preparar-me para a outra grande etapa que se avizinha.

Madalena
Coração apertado e cara alegre, que os miúdos não têm culpa e eu ainda tenho mais uma semana de aulas.
Beijinhos aos dois

10:41 da manhã  
Blogger t-shelf said...

espumante
as razões para a greve encontra-las aqui:
http://blogotinha.blogspot.com/2005/06/greve.html
Chego à conclusão que até sabia destas razões só que não as tinha assim tão organizadas nas prateleiras ;)

11:39 da manhã  
Blogger Carla Motah said...

Pois as razões são muitas. É engraçado que quando os médicos fazem greve e esquecem alguns pontos do juramento de Hipócrates ninguém se insurge. Se calhar é pior adiar o exame para Agosto do que ver um avô ou avó perder a vida porque há apenas um médico e um enfermeiro nas urgências, devido á greve.
Disso ninguém fala, certo?
Fazendo greve ou não, não admito que se estejam agora só a preocupar com os alunos.Os professores querem que eles façam os exames pois é o fruto do trabalho por eles empreendido. Não é a greve que faz dos profs papões, não é?
Gostei do post e beijinhos.
Ah acho que podes ficar descansada porque no teu caso a progressão não é considerada automática. Foi-me dito por um colega todo sindicalista (seja isso bom ou mau).
Beijinhos

7:24 da tarde  
Blogger Carla Motah said...

Para que conste, foi a pressa que me fez colocar o acento de forma errada. "devido à greve" é a forma correcta.
Defeitos do ofício...sempre com atenção às pequenas gralhas...
beijos

7:26 da tarde  

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