quinta-feira, agosto 18, 2005

Todos os homens são maricas quando estão com gripe

Pachos na testa
terço na mão
uma botija
chá de limão
zaragatoas
vinho com mel
três aspirinas
creme na pele
grito de medo
chamo a mulher
ai Lurdes Lurdes
que vou morrer
mede-me a febre
olha-me a goela
cala os miúdos
fecha a janela
não quero canja
nem a salada
ai Lurdes Lurdes
não vales nada
se tu sonhasses
como me sinto
já vejo a morte
nunca te minto
já vejo o inferno
chamas diabos
anjos estranhos
cornos e rabos
vejo os demónios
nas suas danças
tigres sem listras
bodes de tranças
choros de coruja
risos de grilo
ai Lurdes Lurdes
que foi aquilo
não é a chuva
no meu postigo
ai Lurdes Lurdes
fica comigo
não é o vento
a cirandar
nem são as vozes
que vêm do mar
não é o pingo
de uma torneira
põe-me a Santinha
à cabeceira
compõe-me a colcha
fala ao prior
pousa o Jesus
no cobertor
chama o doutor
passa a chamada
ai Lurdes Lurdes
nem dás por nada
faz-me tisanas
e pão de ló
não te levantes
que fico só
aqui sozinho
a apodrecer
ai Lurdes Lurdes
que vou morrer.


António Lobo Antunes

5 Comments:

Blogger Nelson Reprezas said...

not fair :))))

8:57 da tarde  
Blogger Pitucha said...

Até que é verdade!
Beijos e as melhoras do doente.

11:40 da tarde  
Blogger Madalena said...

pois...
Ó Ti, vai ao mail e limpa. Leva vassoura e varre. Entre as tisanas e o pão de ló, dá lá um jeitinho que já veio o mail "de bolta" duas vezes...
Beijinhos

12:05 da manhã  
Blogger Formiga Rabiga said...

Conheço tão bem estes sintomas : )

12:21 da manhã  
Blogger Maffa said...

É mesmo!! o meu homem fica doente 10 vezes por ano pelo menos... e eu nunca apanho a doença dele. Incrível... e depois é chazinhos, lamentaçoes e cruzes credo!

11:58 da manhã  

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